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  • Foto do escritorElissa Khoury

Perfumes e coisas

Atualizado: 30 de jan. de 2021



Com todas as restrições feitas aos clichês, às vezes eles realmente resumem uma sensação. Aquele dos melhores perfumes estarem nos pequenos frascos ficou se repetindo em minha cabeça quando terminei a leitura de um livro de 40 páginas, formato de bolso, adquirido de um sebo. Adoro ler livros que passaram pelas mãos de outras pessoas, especialmente quando vêm com anotações. Esse a que me refiro não tinha nenhuma, mas a capa desgastada e manchinhas aqui e ali contam-me que circula há tempos. Chegou a mim. Um espanto. Um presente.


Para quem gosta de histórias, o nome Clarissa Pinkola Estés é quase uma obrigação. A poetisa, contadora de histórias, psicanalista junguiana especializada em traumas pós-guerra é mais conhecida pela obra Mulheres que correm com lobos. Tornou-se referência por sua atuação social e pelo estudo dos contos tradicionais com toda a potência terapêutica que guardam.


Na quarta-capa de minhas 40 páginas de puro encantamento, ela diz: “Histórias que instruem, renovam e curam proporcionam a alimentação vital para a psique, que não pode ser obtida de nenhuma outra maneira. Histórias revelam, repetidamente, a aptidão peculiar e preciosa que os humanos possuem para obter êxito nas tarefas mais árduas. Elas fornecem todas as instruções essenciais que precisamos para ter uma vida útil, necessária e irrestrita, uma vida significativa, uma vida que vale a pena ser lembrada”. Toda a vida vale a pena ser lembrada.


O fio condutor é uma pergunta: o que é suficiente? Com uma história dentro da outra, as dualidades de nossa existência – luz e escuridão, alegria e tristeza, desespero e esperança – alternam-se e integram-se. Experimentaremos de tudo, em maior ou menor grau, independentemente de nossa vontade. Nesses mesmos paradoxos, narrativas nascidas das noites mais escuras podem trazer “as curas mais poderosas para os males passados, presentes e futuros”.


O grande sábio Bal Shem Tov, uma tia húngara, uma guerra, um desconhecido, um casal de parcos recursos, uma noite de Natal. Histórias diferentes e um fio que tudo liga, mostrando-nos o que é suficiente. Um espanto. Um presente.


Deixo a referência desse pequeno frasco de perfume para quem quiser experimentá-lo. Estés, Clarissa Pinkolas. O dom da história: uma fábula sobre o que é suficiente. Trad. Waldéa Barcelos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.


E já que me dei o direito de usar frases repetidas com frequência, encerrarei com outra: “As melhores coisas da vida não são coisas”.


Elissa Khoury

 
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