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O lugar da dor

Foto do escritor: Elissa KhouryElissa Khoury


Qualquer biografia é composta de alegrias e dores de todos os tipos e tamanhos. Algumas dores, as linhas tortas não explicam de imediato. Talvez elucidem adiante na nossa história ou talvez nas gerações futuras. Mas existe um plano em que tudo, de algum jeito, fará sentido, mesmo que a gente não o compreenda de pronto. Mesmo que a gente se afogue na dor, mesmo que só seja possível sobreviver uma hora por vez porque um dia parece longo demais.


Sobrevivamos um minuto que seja, e depois o próximo, e depois próximo, e depois o próximo quando até uma hora parecer longa demais para o tamanho da nossa dor. Somos sobreviventes. Se chegamos ao dia de hoje, sobrevivemos. E seguimos simplesmente porque não quisemos (ou não soubemos) parar de continuar.


Cada perda tem seu aprendizado, e cada dor terá um sentido na construção disso que nos tornamos. Eu só sou que sou hoje por causa do que vivi ontem, anteontem e nos demais dias pregressos.


Costumamos honrar as conquistas e vitórias, mas é na dor que mais crescemos. É a dor que nos pede a superação, que nos arranca à força do cotidiano, que interrompe ou inverte o fluxo das coisas, que nos tira o chão. É também ela que nos dá musculatura e que, uma vez superada, enche-nos de cicatrizes. Lembremo-nos de que a pele com cicatriz é mais resistente do que a imaculada. Nossas cicatrizes contam-nos sobre nossa força.


Saibamos honrar cada dor com uma reverência sagrada. Que, quando ela chegar, encontremos mãos estendidas que se deem às nossas; o apoio que nos faz sobreviver; a escuta como tábua de salvação. Quando a noite escura chegar e parecer não ter fim, a travessia será individual, mas que possamos nos sustentar e pedir ajuda. Há de passar. Há de nos transformar.

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