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Foto do escritorElissa Khoury

Precipício em mim



É diferente quando a bruxa malvada morre na história. A gente torce para que suma e deixe todo mundo feliz para sempre. É diferente, também, quando morre o pai ou a mãe da personagem da história. Porque fica morrido e pronto. E a história não é sobre o pai ou a mãe que morreu, é sobre a pessoa que tem que sair para o mundo para ser feliz. Feliz para sempre.


Para sempre, vovô morreu.


É assim que começa o livro Precipício em mim, morreu pra onde?, de minha autoria. Ele conta a história do Otávio, um menino cujo avô tem uma doença que cresce “que nem raiz de planta que não dá para ver crescendo”. Ao longo das páginas, acompanhamos a confusão de sensações e sentimentos que envolvem o luto do protagonista. Como ele vai lidando com a finitude do avô.


Essa história ficou pronta em 2020 e teve que aguardar a hora certa de vir ao mundo. Estou aprendendo que a hora certa nem sempre é a que eu imagino ou desejo, mas a que me presenteia com encontros surpreendentes.


Não cheguei aqui só. Em 2020, fiz uma live com James Mc Sill, quando finalizei o texto. Foi ele quem plantou a semente dessa escrita e me deu as mãos ao longo do processo. De lá para cá, estudei as leis biográficas que regem a vida humana, acompanhei outras finitudes, tornei--me contadora de histórias, encarei minhas sombras e estou aprendendo a integrá-las como partes imprescindíveis de mim.


Em meus encontros com as pessoas, ganhei compreensões e quietudes, afetos e belezas. Meu espírito curioso me fez buscar e oferecer cursos que tratam do existir. Se nossa biografia individual um dia se encerra, o que fazemos com ela enquanto o fim não chega? Cada fase da vida tem sua resposta e seu sentido. Quanta coisa mudou quando entendi isso.


A editora Coralina é de Caixas do Sul, e o Pedro Paulo, o Pepe, é o editor que acreditou no texto e viabilizou a publicação do livro. Por causa dele, conheci a equipe da editora e o ilustrador Daniel D’Angeli. A história tocou-os como tocou a mim quando a escrevi. Tive certeza disso ao ler uma postagem do Daniel sobre o trabalho de ilustração: “O livro faz pensar sobre a importância da memória e do afeto, e que viver é sobretudo aprender a crescer em um mundo complexo”.


A obra é fruto da reelaboração de um luto pessoal, que tanto me ensinou sobre os ciclos da vida. Por causa dele, por me permitir a dor de vivê-lo, pude perguntar o que queria me dizer, o que tinha para me ensinar. Ele me trouxe de presente pessoas queridas, novos caminhos e muito aprendizado: compreensões e quietudes, afetos e belezas.


É fácil? Não, não é.


Leva tempo, dá trabalho, mas vale cada segundo.

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